CRIAÇÃO DA MILLENNIIUM
O foco da comunidade virtual LA RPG Millennium Society é a interação das pessoas com elementos distintos da literatura, em especial, do cunho literário que alia o fantástico ao real, ligando a ficção à realidade. Basicamente, a Millennium Society existe com um único propósito: promover a leitura e a escrita através do Role Playing Game/Live Action, isto é, um jogo de interpretação onde as pessoas escrevem obras de ficção através de textos combinados com seu lado emocional e criativo. Em suma, a Millennium é como um projeto social voltado a expressão artística e vasão da subjetividade intelectual de cada um dos seus membros.
Sua criação remonta ao ano de 2013, quando um pequeno grupo de amigos que interagiam num jogo virtual chamado IMVU; Bate-papo 3D, tiveram a ideia de criar um RPG (Role Playing Game) online dentro do Facebook. Uma vez que essa plataforma digital oferecia mais ferramentas para a organização do que a rede IMVU, a iniciativa em pouco tempo ganhou fôlego, atraindo várias pessoas que se conheciam naquele espaço para dentro da comunidade. A partir daí, diversas relações de amizade, rivalidade e cooperação se construíram ao longo do tempo, cultivando uma série de histórias compartilhadas entre os membros daquele âmbito. Seus integrantes se tornaram cada vez mais próximos, compartilhando do desejo de estarem juntos durante o hábito da escrita diária. Assim, o vínculo entre os participantes foi se tornando cada vez maior, ao passo que uma geração desencadeava outra; aprendizes se tornavam mestres, sustentando um ciclo aparentemente sem fim, transmitindo uma espécie de legado de geração para geração.
A MILLENNIUM SOCIETY ENQUANTO NEOTRIBO
Uma das forças mantenedoras da Millennium Society enquanto neotribo, é a sociabilidade que existe entre os indivíduos que a integram. Os jogadores ocupam papéis de acordo com os seus personagens, vivenciando histórias dentro do universo ficcional em que se passa o rpg. Dessa forma, cada membro da comunidade está sujeito a uma constante troca de informações culturais e simbólicas, já que no decorrer da produção de suas obras, os escritores entram em contato com inúmeros contextos que constituem a jornada de seus heróis. Porquanto, quando os autores acabam cruzando as linhas de suas narrativas, há o compartilhamento de uma bagagem de interpretações simbólicas que, por sua vez, agrega na construção de suas identidades dentro do âmbito virtual. Logo, a identidade de um sujeito passa pela percepção do outro, ao mesmo tempo que seus hábitos e comportamentos influenciam diretamente nas relações dentro do grupo. A construção do cenário imaginário coletivo, em especial, deriva de um conjunto de fatores moldados pelas relações que os escritores sustentam entre si, pautando um conjunto de gostos, habilidades, experiências e trivialidades. Muito da criação da identidade da Millennium Society se dá pela percepção das diferenças que existem entre os seus membros, já que “geralmente é na interação com outras populações que os membros de determinado trupo tomam consciência de suas particularidades. Só assim se realiza o sentido de pertencimento e de identidade” (CONTRERA, GRACIAS, 2011, p. 140-141).
O DIFERENCIAL DA MILLENNIUM EM RELAÇÃO A OUTROS GRUPOS
O que distingue a comunidade objeto do estudo, é o pressuposto de uma comunidade que em sua vigência, faz através da escrita criativa, os participantes tomarem para si algo como “responsabilidade”. Ser responsável pela formação de um indivíduo no âmbito de escrita pode fazê-lo adquirir traços relativos àquela sociedade e influenciar o modo como o mesmo age. Pode parecer estranho à primeira vista, mas é como se a escrita fantasiosa moldasse os integrantes da Millennium Society para a sociedade externa, ou o mundo offline. Construir uma história enorme, cooperativamente, ajuda no estímulo intelectual quando, por vontade própria, os jogadores adaptam fichas e vão atrás de criar novas histórias e tramas. Com isso, uma parcela significativa dos membros aprende sobre novas culturas, crenças e ciências. No mundo offline, esse grupo pode ter grande impacto futuro.. Sob a ótica da teoria de Maffessoli, os vínculos desenvolvidos entre os membros de uma comunidade, promovem o que o autor chama de reencantamento do mundo, o que permite a “constituição de uma rede mística, com fios mais sólidos, que permite falar do ressurgimento do cultural na vida social” (MAFFESOLI, 1998, p. 117).
P.s: Estas informações foram retiradas de um trabalho acadêmico voltado a uma pesquisa etnográfica da comunidade virtual Live Action Millenniium Society, cujo link está aqui: https://docs.google.com/document/d/1TvK25DbT89lAzh2MKsYmdb9WdKdpk-c3W6OV66_jxxk/edit?usp=drivesdk
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